Um pesadelo chamado transição capilar

Meu cabelo diz muito mais sobre mim do que eu gostaria e esse é um fato. No fundo acho isso bem triste, ser totalmente dominada pelo cabelo me mostra como as nossas atitudes podem ser restritas.

E eu sei que tem um monte de gente que passa por isso também, se sente inferior a outras pessoas, sozinha e triste. E gente, isso não é nada normal, não podemos continuar agindo dessa forma.

Chega um momento da vida que a mudança se faz necessária e ela é libertadora, posso dizer com conhecimento de causa.

E nesse post vou contar como tem sido a minha luta entre o cabelo que eu tenho e o cabelo que eu/uma parcela do mundo gostaria de ter.

 

Sou filha da mistura, como boa parte desse Brasilzão. Mãe branca e pai negro, claro que o resultado possivelmente seria uma filha morena ou mulata para alguns. No caso eu!
E antes que me julguem, eu tenho o maior orgulho da cor que tenho.

O contexto é apenas para mostrar que estamos no Brasil e aqui o que mais tem é gente misturada, graças a Deus!

Mas voltando ao que interessa. Não me lembro de quando comecei a lutar com meu cabelo. A minha memória de Dory, não vai me permitir contar muitos detalhes, mas lembro do suficiente para você compreender.

Até o colegial tinha o cabelo tipo Vanessa da Mata, mas também passei por várias trancinhas, coques e outros looks. Na época até achava bonito, mas era zuada (nem sabia que isso era bullying) então vivia perdida com as madeixas.

No entanto, quando comecei a trabalhar e estava me preparando para entrar na faculdade decidi que era hora de ter um cabelo que “desse menos trabalho”, foi ai que optei pelo tratamento de choque: alisamento hardcore. Acredite se puder, ainda corte chanel e de franja (não me pergunte se tenho fotos, não tenho).

Claro que comecei a faculdade me achando! E sim, por hora o cabelo era prático.

Passei bons 8 anos da minha vida entre os meses lisos e o retoque. Ficava horas sentada na cadeira respirando aquele ar meio impuro para o meu liso voltar.

Nesse meio tempo também me privava algumas vezes de cair na piscina com os amigos e saia correndo quando apontava a chuva. Haja oração para São Pedro.

Aos poucos fui me tornando refém do cabelo, mas não notava. Estava na moda!

Contudo, por mais cuidado e hidratação que você faça chega uma hora que o seu cabelo pede socorro e não precisa ser cabeleireira para saber disso. Aliás, os próprios profissionais vão poder te dizer.

E o meu começou a gritar. Foi ficando meio ralo, sem graça. Além disso, já havia conversado e visto alguns médicos falando sobre os males que o formol usado durante muito tempo pode causar a nossa saúde.

Foi a deixa para tentar voltar ao cabelo natural. Foram 3 anos cortando, trançando e amarrando. Até que o cabelo ficasse 100% natural. Muito sofrimento e choro escondido. Além de uma vontade incontrolável de alisar para tornar tudo mais fácil.

Por isso digo. Seja forte, isso passa!

Aceitar meu cabelo crespo foi uma luta interna. O que ajudou foi ver que tantas outras mulheres também estavam passando pelo mesmo que eu e conseguiam a grande liberdade!

Hoje meu cabelo está 100% natural, confesso que quando quero mudar recorro a chapinha e secador. Cenas raras, porque eu gosto tanto dos cachinhos e tenho tanta preguiça de passar calor naquela cadeira que prefiro me virar com o que tenho.

Ah! E ele não acorda sempre de bom humor ou está do jeito que eu sonho. Mas é meu, é minha cara, minha identidade e finalmente eu aprendi a me amar com o que tenho.

Faz um tempo e assisti um documentário no Netflix chamado “Felicidade por um fio”, nele a protagonista retrata o que uma boa parcela das mulheres passam ao se ver frente a frente com o cabelo natural.

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Ali fica nítido como o cabelo influencia na autoestima da mulher e em todo o resto. Empoderada que fala não é?

Vejo que essa luta não é apenas de mulheres com cabelos crespos. Mas daquelas com cabelos lisos, claros, escuros, do nariz chato, dos seios pequenos ou fartos. Dos quadris largos, barriga saliente e pernas finas.

Não é apenas o cabelo que nos faz reféns. Somos nós e nossa mania de querer ser iguais. Acho mesmo que passou da hora de compreendermos a nossa beleza, entender que nosso corpo é templo do Espírito Santo e que cada uma, com sua essência única, é uma beleza a ser contemplada.

Quer realmente empoderar mulher? Se olhe no espelho e veja a beleza que vem de você!

Se você tem alguma coisa que não te deixa satisfeita ou já revolucionou sua relação com o espelho, deixa aqui nos comentários. Vamos trocar boas ideias e nos ajudar a ir cada vez mais longe!